Educar para transformar
Ensino por competências: o que é e qual impacto na educação do seu filho
O ensino por competência visa preparar o estudante para que ele atue e interfira no mundo em que vive, tornando-o um mundo melhor para as futuras gerações.
22/06/2023 | POR Colégio Santo Agostinho
Colaborou com este post:
Raphael Prado
Professor do do Ensino Fundamental II - Colégio Santo Agostinho - Unidades Nova Lima
O ensino por competências é um assunto que nos interessa e nos orienta. O tema não é tão recente, mas a necessidade de falar sobre ele vem aumentando à medida que nossas relações sociais tornam-se mais complexas.
Sendo assim, em linhas gerais, podemos dizer que o ensino por competências visa preparar o estudante para que ele atue e interfira no mundo em que vive, tornando-o um mundo melhor para as futuras gerações.
Além de aprender os conteúdos previstos nos planos de formação, ele desenvolve competências a serem aplicadas em qualquer contexto, nas relações interpessoais, pessoais e (futuramente) profissionais.
Elaboramos este artigo justamente para ficarmos todos na mesma página. Aqui, conceituaremos melhor o que é ensino por competência, quais são as suas características e como se diferencia do ensino tradicional.
Também comentaremos quais são suas vantagens, como a Base Nacional Curricular Comum (BNCC) compreende o conceito de competências e quais são as competências almejadas pelo documento para o ensino básico no Brasil.
Venha se aprofundar no tema com a gente!
O que é ensino por competência?
O ensino por competência ganhou relevância nos últimos anos em função da ineficácia do modelo tradicional de ensino, sobre o qual iremos diferenciar mais à frente.
Origem do termo
No final do século XIX, John Dewey, representante da teoria do Pragmatismo, afirmava que a experiência é a força motriz do aprendizado. Paulo Freire, por sua vez, no final do século XX, defendia uma aprendizagem baseada na experiência e contexto dos alunos, apresentando problemas práticos e próximos do dia a dia dos estudantes.
O método Montessoriano confirma que a criança aprende quando explora e está em atividade, o ambiente e as ferramentas educacionais devem chamar sua atenção para que a sua criatividade e o seu raciocínio sejam trabalhados e desenvolvidos.
A criança por natureza deseja o aprendizado, possui total concentração nas suas determinadas atividades, e uma afeição pela ordem e organização.
O incentivo quando bem aplicado, terá resultados extraordinários, a criança aprenderá com seus próprios erros, nada de castigo ou bonificações, pois a recompensa ao fazer o certo vem pelo aprendizado de tê-lo feito corretamente.
Já o método de ensino desenvolvido por Steiner é baseado em uma abordagem mais lúdica, onde crianças aprendem através das artes e da própria vivência. As crianças têm aula de tricô, dança, pintura e ajudam na cozinha.
O foco do ensino não está na aprendizagem rápida da leitura e o processo de alfabetização se inicia após os sete anos. Além disso, nenhum professor usa livro didático ou caderno pautado.
A partir desses autores que trabalham com a ideia de produção de conhecimento associado à experiência, nasce o conceito de competência. No campo da educação, a definição mais conhecida é de Philippe Perrenoud, para quem competência é a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos (saberes, capacidades, informações) para solucionar com pertinência uma série de situações.
Nos Estados Unidos, a partir dos anos 60, foi criado o modelo de ensino denominado educação baseada em competência (EBC) por escolas que questionavam o aprendizado dos alunos sobre habilidades necessárias à vida em sociedade.
Hoje, para a BNCC, o termo competência deve ser compreendido e trabalhado como a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores, em diferentes contextos e que dêem condições de o aluno resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho.
Afinal, com a evolução da tecnologia, 47% dos empregos que conhecemos hoje irão desaparecer dentro de 20 anos, segundo o Fórum Econômico Mundial (WEF).
Como na revolução industrial, quando pessoas foram substituídas por máquinas, os empregos que desapareceram foram os de baixa qualificação, como agricultores, que eram uma fatia de 80% da população, esses agricultores deixaram de arar terra para apertar parafusos nas máquinas e depois quando as máquinas foram automatizadas, elas começaram a apertar botões.
Até aqui o ser humano sempre deu um jeito, mas as próximas profissões que surgirem vão solicitar pessoas com altas qualificações. 65% dos alunos do ensino básico vão trabalhar em profissões que ainda não existem e como a educação vai lidar com isso? Como elas vão se preparar diante de um futuro tão incerto?
E a resposta, até o momento, serão as escolas que desenvolvem as habilidades comportamentais, uma vez que com a Inteligência Artificial, quase toda habilidade técnica poderá ser desenvolvida pelos robôs.
Isso se comprova, segundo pesquisa do Fórum Econômico Mundial, com 10 habilidades que serão desejadas para um profissional do futuro e todas elas são comportamentais, entre elas estão: criatividade, pensamento crítico, trabalho em equipe, negociação, liderança e gestão de pessoas e etc.
Modelo tradicional X Ensino por Competência
O modelo que aqui chamamos de tradicional é o que perdurou (e ainda perdura em algumas escolas) com um processo de ensino centralizado no professor, detentor do conhecimento. Em um método transmissionista de conteúdo, o docente apenas transpõe o seu conhecimento em aulas expositivas e, por muitas vezes, sem interlocução e elaboração.
O problema desse modelo de ensino é que ele não se aproxima da realidade do estudante e dos seus interesses. Os conteúdos são compartimentados e tem muita informação especializada. Assim, o conteúdo não é assimilado pelo estudante ou é assimilado de forma superficial (memorizado para as avaliações), pois o aluno não consegue aplicá-lo em outras áreas da vida, fora do ambiente escolar.
Para reverter essa situação, é preciso entender que a criança e o jovem possuem, hoje, outras demandas de aprendizado que superam um modelo que seja meramente de exposição e reprodução do conteúdo, sem pensamento crítico. Esse modelo de ensino acaba se tornando superficial, pois ensina o que pensar e não como pensar e isso cria uma defasagem com o mercado de trabalho do futuro.
Estimulado, principalmente, pela internet e por novas tecnologias, o estudante 4.0 consome informação de forma mais interativa e participativa. Portanto, é preciso compreender as necessidades e o comportamento desse novo sujeito: como ele se expressa, o que ele gosta e quais suas referências.
A partir disso, devemos colocar o estudante no centro da aprendizagem, oferecendo uma educação que seja significativa e que desenvolva competências e habilidades, contribuindo para a formação plena desse sujeito, enquanto ser social.
É desse contexto que o ensino por competência volta à tona e tem sido aplicado e discutido nas escolas de educação básica. A própria Base Nacional Comum Curricular (BNCC) estabelece que, ao longo da educação básica – ensinos infantil, fundamental e médio -, o planejamento pedagógico deve ser orientado para o desenvolvimento de competências dos estudantes que garantam aprendizagens essenciais.
Vantagens do ensino por competência
Antes de compreender as vantagens do ensino por competência, é preciso compreender em que o termo competência se difere de habilidade.
A BNCC trabalha com o desenvolvimento de competências ao longo do processo de ensino e aprendizagem. Como visto, a partir das competências são desenvolvidas habilidades para o aluno “saber fazer”.
Isso nos ajuda a compreender que competência é mais ampla, enquanto a habilidade é mais específica e diz respeito a uma prática em si a ser desenvolvida.
Por exemplo, imagina que a competência é como dirigir um carro, em que ao longo das aulas de direção aprendemos habilidades como: passar marcha e segurar o volante, olhar o retrovisor e manter a aceleração e etc. Ao dominarmos cada habilidade (que pode ser utilizada em outros contextos) conseguimos ter a competência da direção.
Ressignificar o conceito de competência permite que o professor alinhe a abordagem de ensino a competências e a habilidades. E também nos diz o quanto é necessário as instituições de ensino recorrerem às metodologias ativas de aprendizagem que promovam o protagonismo do estudante.
Mediante isso, elencamos aqui algumas vantagens alcançadas pelo ensino por competência:
- Pensamento crítico-reflexivo;
- Capacidade de resolução de conflitos;
- Empatia;
- Desenvolvimento de habilidades diversas;
- Espírito de liderança e tomada de decisões;
Quais são as competências de ensino propostas pela BNCC
Como mencionado, a BNCC prevê competências que devem ser desenvolvidas ao longo da educação básica e que são resumidas em dez pontos, conforme o documento disponibilizado no portal da base.
Com o estabelecimento dessas dez competências gerais, a BNCC quer reconhecer na educação o papel de afirmar valores e estimular ações que contribuam para a transformação da sociedade por meio dos estudantes, tornando-a mais humana, preocupada com as questões ambientais e justa socialmente.
É também objetivo da BNCC alinhar-se ao que está previsto na agenda da Organização das Nações Unidas (ONU) para o ano de 2030.
Em resumo, as 10 competências gerais listadas pelo documento são:
- Conhecimento
- Pensamento científico, crítico e criativo
- Repertório cultural
- Comunicação
- Cultura digital
- Trabalho e projeto de vida
- Argumentação
- Autoconhecimento e autocuidado
- Empatia e cooperação
- Responsabilidade e cidadania
De forma mais detalhada, o que a BNCC prevê como competência para cada item é:
- Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva.
- Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas.
- Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural.
- Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo.
- Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.
- Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.
- Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta.
- Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas.
- Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.
- Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.
Ensino de competências no Colégio Santo Agostinho
O Colégio Santo Agostinho desde sempre buscou implementar o ensino por competências na grade curricular dos alunos. Na pandemia se intensificou, quando o modelo de ensino tradicional foi posto em xeque, pois as aulas não podiam acontecer presencialmente e por ser um momento delicado na vida de todas as pessoas.
Nesse momento, os professores precisaram se reinventar e realmente colocar o ensino de habilidades em funcionamento. Não era mais só sobre conteúdos específicos de matemática e português, mas ensinos comportamentais que ajudariam nossos alunos a lidar melhor com esse período turbulento.
Esse modelo de ensino comportamental consegue instrumentalizar o nosso aluno da capacidade de pensar sobre o conteúdo. Algumas críticas a esse modelo argumentam que há uma quantidade menor de conteúdo, porém, na verdade o ensino por habilidades consegue ajudar os estudantes a entender, compreender e criticar qualquer conteúdo e não apenas absorver de forma superficial e improdutiva para a vida e o mercado de trabalho.
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