Aprendendo a aprender
Aprender brincando: desafios e perspectivas para pais e educadores
Como pais e educadores podem ajudar os pequenos estudantes a se desenvolverem enquanto brincam.
15/04/2021 | POR COLÉGIO SANTO AGOSTINHO
Colaborou com este post:
Fernanda Ribeiro
Supervisora da Educação Infantil do Colégio Santo Agostinho - Gutierrez
Pelo título você já entendeu: este é um artigo sobre o “aprender brincando”, um tema fundante da educação infantil. Antes de imergir no texto, pedimos que você manuseie um objeto enquanto lê o artigo. Pode ser uma caneta, folhear um livro, qualquer item, combinado? Pegou? Então, vamos lá!
Por muito tempo, a educação de crianças menores teve um cunho de atendimento assistencialista. Interessava apenas o cuidado com a saúde física e não o desenvolvimento humano e cognitivo da criança. Essa concepção mudou a partir de novos estudos, novas teorias que trouxeram à tona as noções de que a criança é um indivíduo com possibilidades, um produtor de cultura, um cidadão.
Percebê-la como um sujeito revela que a educação infantil não pode ser vista apenas como preparatória para a fase seguinte, a do ensino fundamental. Mas um período no qual esse sujeito desenvolva as suas múltiplas potencialidades.
E a criança faz isso brincando, como aponta Fernanda de Araújo Ribeiro, supervisora da educação infantil do Colégio Santo Agostinho – Unidade Gutierrez: “Temos a história pregressa de uma criança pouco valorizada, pouco considerada no processo de ensino-aprendizagem. Porém, hoje, ela é vista como uma cidadã de direitos e um deles é o brincar. A brincadeira oferece a ela o direito de fazer suas próprias escolhas, ser protagonista do processo. E é assim que entendemos a brincadeira. E não falo de uma brincadeira necessariamente estruturada, e sim de possibilidades naturais para ela criar, conhecer, reinventar, experienciar. Por isso, afirmo que brincar é coisa séria”.
Vamos então falar desse assunto sério? Venha com a gente ler e se envolver em uma aprendizagem mais lúdica para o seu filho!
Aprender brincando, sem brincar para aprender
O brincar é uma atividade essencial e natural da criança que contribui e possibilita a sua formação enquanto sujeito. Mas percebemos uma preocupação comum dos pais em aproveitar brincadeiras para ensinar conteúdos escolares para os filhos.
A supervisora Fernanda alerta que esse é um dever e compromisso da escola, que tem feito isso com muito preparo e qualidade. Nesse sentido, a organização e a capacitação docente são pensadas para considerar o brincar uma ferramenta de aprendizagem. “É a escola quem deve estar preparada para isso. Os professores estudam sobre o desenvolvimento infantil, a importância do brincar na infância para compreender e considerar os jogos e as brincadeiras como possibilidades de muitas aprendizagens. Então, os responsáveis precisam entender que o brincar vai além do conteúdo escolar”, pontua. Podem e devem, é claro, estimular em casa, pois isso só aumentará as possibilidades da criança.
Assim, podemos compreender que a brincadeira é o maior veículo de aprendizagem da criança. Basta olhar para o universo infantil, criar espaços e oferecer recursos para que a brincadeira aconteça o tempo todo e de várias maneiras.
Lembra quando falamos no início do texto para você pegar um objeto e manuseá-lo enquanto lê este artigo? Você sentiu a textura desse objeto, o cheiro? Ele tem sabor? Talvez você tenha se esquecido de perceber tudo isso enquanto prestava atenção ao texto.
Porém, se você oferecer um objeto próximo ao pé ou à mãozinha de um bebê, ele vai querer explorar esse objeto. Possivelmente vai querer levá-lo à boca e escolher o que fazer com ele mediante os movimentos que já consegue realizar. Da mesma forma, se você oferecer um cesto de brinquedos para uma criança maior, ela também vai querer explorar. Ela vai tentar descobrir como funciona, experienciar, utilizar o imaginário e até criar possibilidades de brincadeira com esse objeto.
Isso é aprender brincando: estimular a criatividade, o desenvolvimento de capacidades cognitivas, motoras e afetivas, além da socialização e da grande possibilidade de explorar, do seu jeito, o mundo adulto do qual faz parte. É brincando que se aprende. Definitivamente, brincar não é sentar e estudar. Também não é “vamos estudar agora e, ao final da aula, a gente brinca”. É fazer desse veículo o motor gerador de aprendizagem para as crianças pequenas.
Criança aprende brincando: como oferecer uma estrutura fora da escola
“Gosto da ideia de que o brincar é natural da criança. Pois não consigo pensar em uma criança que não brinque. É no brincar que ela identifica suas possibilidades, se reconhece e reconhece o outro. É ali que ela constrói repertório para a relação com os colegas e aprende que cada um é um ser único e diferente. Por isso, é necessário permitir brincar livremente, sem intenções de ensinar português ou matemática”, afirma Fernanda de Araújo.
Essa fala reforça o papel do adulto na missão de aprender brincando da criança: oferecer condições para a brincadeira acontecer, mediar. “O adulto deve oferecer espaço e estrutura para essa criança, mas não precisa ser um brinquedo estruturado. Qualquer elemento que oferecemos a ela, seja ao ar livre, explorando elementos da natureza, ou em casa, brincando com itens domésticos, é uma oportunidade de enriquecer a brincadeira.”
Um exemplo disso é a brincadeira de casinha, um clássico. Embora existam inúmeros brinquedos e até a casinha pronta, não é necessário muito para que a criança simule esse espaço. Na casinha, ela faz as próprias regras de organização, desempenha papéis, reproduzindo atitudes do adulto.
Nesse sentido, os pais não precisam comprar inúmeros brinquedos, que falam, que andam, que desligam e ligam sozinhos. Basta disponibilizar recursos, que podem ser dos mais simples, para que a criança brinque, pois certamente ela aprenderá muitas coisas importantes. E se você deseja criar um ambiente de brincar que seja de total aproveitamento para a aprendizagem, nós sugerimos o seguinte:
Ofereça bons livros
A leitura não é uma atividade solitária como muitos imaginam. É uma oportunidade de o adulto se engajar na fantasia junto com a criança. Por isso, a sugestão é criar uma rotina de contação de história. Ouvir histórias estimula a criança a criar repertório, vocabulário e estimula a imaginação. Também ajuda a identificar e lidar com os seus sentimentos.
Varie os ambientes
Não precisa ter uma super brinquedoteca em casa ou no condomínio. A criança faz a brincadeira em qualquer ambiente seguro. Você pode variar os espaços de brincar dentro da própria casa ou levá-la para fazer isso ao ar livre. O quintal e o jardim são ambientes bastante ricos. Façam piquenique juntos, receitas, jardinagem, pinturas etc.
Estimule a interação
É importante que os pais reservem algum momento para a brincadeira com os filhos. A diversão relaxa o adulto e gera conexão emocional e boas memórias na criança. Além disso, é necessário que estimulem também a interação com outras crianças. Os pequenos que são pouco estimulados apresentam menos repertório e, com isso, não se sustentam nas brincadeiras com os pares, acabam se isolando e brincando sozinhos. Aproveite este momento em que ele está desenvolvendo senso de grupo para estimular a coletividade e o respeito à diversidade.
Reconsidere as tecnologias
As tecnologias não podem ser consideradas como vilãs do desenvolvimento infantil. Também é possível aprender brincando com elas. Embora seja frustrante ver os filhos horas e horas na frente da TV, no videogame ou no computador, tudo isso é a realidade desta geração. E a responsabilidade do gerenciamento do tempo e do uso das tecnologias é do adulto. Cabe a ele auxiliar a criança a escolher os melhores programas, games e estipular regras de uso.
Educadores e a reinvenção da brincadeira com o on-line
Por falar no uso de tecnologias para a criança aprender brincando on-line, quem também passa por esse desafio são os professores.
O papel do educador é ser facilitador, mediador do processo de aprendizagem. Assim como despertar e manter o interesse da criança no ambiente virtual, é preciso aproveitar o tempo criativo, coordenar atividades e estimular a interação entre os coleguinhas. São missões que exigem bastante do professor no ensino on-line. Especialmente porque as literaturas e experiências sobre educação infantil são versadas no ensino presencial e os estudos sobre ensino on-line se referem à fase do ensino fundamental em diante.
Portanto, “para o professor, a palavra mais latente do ensino on-line de crianças pequenas é a criatividade. Ele precisa estudar muito, planejar para oferecer um ensino remoto de qualidade. Tem que se reinventar, reinventar suas práticas para criar condições de a criança aprender brincando pela tela, além de promover a interação entre elas, mesmo que de forma remota. No meio de tudo isso, ainda precisa perceber como as propostas e os estímulos dados são recebidos pelos pequenos”, ressalta a supervisora Fernanda.
Diante de tantos desafios da educação infantil on-line, a parceria entre professor e família precisa ser ainda mais fortalecida. No remoto, as observações diárias são compartilhadas entre todos. “O que a gente costuma indicar é que o responsável pela criança em casa crie uma rotina de organização, como se a criança estivesse indo para a escola presencialmente. Organizar o material, o espaço em que irá assistir às aulas, por exemplo, ajuda a criança a entrar no ritmo e a se entusiasmar para o encontro com o educador e demais colegas por tela”, conclui.
E então: este artigo contribuiu para ressignificar a brincadeira na educação infantil? Compartilhe este material com outros pais para que saibam como o ato de brincar proporciona benefícios para o desenvolvimento infantil. Até o próximo conteúdo! 🙂