Como preparar seu filho
Ser produtivo sem criar o esgotamento emocional do estudante
É preciso manter a sintonia com os estudantes para ajudá-los a superar os momentos de dificuldade.
01/08/2021 | POR COLÉGIO SANTO AGOSTINHO
Colaborou com este post:
APARECIDA DEBONA
Gestora Pedagógica (Ens. Fundamental II) do Colégio Santo Agostinho - Contagem
Ansiedade, desânimo, dificuldade de concentração… esses são sintomas associados ao esgotamento emocional do estudante, e surgem quando as crianças e jovens são submetidos a situações estressantes.
Além disso, esses sintomas podem ganhar força quando somos forçados a adaptar rotinas, abrir mão de certas facilidades e conviver com frustrações.
Neste momento, milhões de estudantes no mundo inteiro passam por essa situação, porque aprender é algo que estimula nosso sistema nervoso, e, indiscutivelmente, os seres humanos aprendem mais e melhor quando podem socializar.
Por isso, é importante ter uma atenção especial com os estudantes neste momento, já que eles estão convivendo com pelo menos três fatores estressantes ao mesmo tempo: o distanciamento social, gerir o próprio aprendizado sem as vantagens da sociabilidade, adaptar a própria rotina.
É importante identificar os sinais de esgotamento, contar com a família ou pessoas que possam auxiliá-lo, e, quando possível, buscar ajuda profissional, mesmo que a distância.
Autores como Maturana e Vigotsky defendem que as emoções e as interações sociais são facilitadoras do processo de aprendizagem, por isso quando o estudante é forçado a trabalhar sozinho ou é exigido em demasia nos seus resultados, tende a apresentar desânimo, dificuldade de concentração e baixa autoestima.
O aprendizado perde o significado causando prejuízos no desenvolvimento da pessoa.
O esgotamento emocional do estudante
Pais e educadores precisam manter a sintonia com crianças e adolescentes, para que, com o diálogo e a valorização das pequenas conquistas, possa ajudá-los a superar os momentos de dificuldade.
Para a gestora pedagógica do Colégio Santo Agostinho – Unidade Contagem, Aparecida Altoé, os jovens podem se tornar propensos a apresentarem o esgotamento emocional.
“Na escola, o estudante vivencia uma rotina, faz exercícios, descansa, interage presencialmente com seus pares, é supervisionado por profissionais. Em casa, mesmo recebendo instruções detalhadas de seus mestres e pais, o estudante terá que empreender um esforço extra para aprender”, ressalta a supervisora.
Além disso, ela pontua que se for um estudante muito autoexigente, poderá sentir-se inseguro sem o feedback imediato do professor. Outra questão relevante, é que o aprendizado a distância exige muita disciplina e organização pessoal, e essas virtudes estão ainda em desenvolvimento nas crianças e adolescentes.
Portanto, se aprender neste novo contexto é mais estressante, precisamos identificar e agir sobre os sintomas do esgotamento emocional. Vamos começar pelos contextos anteriores à pandemia. Vejamos!
Isolamento social e desempenho escolar
“Meu filho é quietinho”, “aquele estudante é quietinho, não faz bagunça”… Quantas vezes na vida você ouviu essas frases?
A tranquilidade a timidez e a temperança são traços de caráter que não impedem a convivência social das crianças, por vezes até ajudam na concentração, no entanto, quando a criança se recusa a conviver com outras pessoas, mostra sinais de medo, pode estar esgotada emocionalmente devido a:
- receber críticas excessivas;
- apresentar dificuldades de comunicação, o que dificulta o entrosamento com os colegas;
- sofrer com amizades hostis;
- receio causado por dificuldades acadêmicas;
Conforme dissemos, emoção e aprendizagem caminham juntas, portanto, vivenciar o isolamento social, pode ocasionar baixo desempenho acadêmico.
Algumas crianças e adolescentes podem isolar-se socialmente por apresentarem desempenho inferior aos colegas, ou às vezes, também o oposto, o que pode despertar a atenção de colegas hostis, ocasionando muitas vezes, o bulliyng.
Como lidar com o isolamento social da criança?
Primeiramente, é preciso conhecer a criança/adolescente, e dar a ela(e) o direito de ter a própria identidade. Usar rótulos como “agitado”, “bagunceiro”, “caladinho” não ajuda em nada.
Por isso, ao perceber que a criança está isolada, pais e professores devem dialogar entre si, para descobrirem se esse traço é específico de apenas um ambiente (em casa ou na escola) ou se é uma conduta recorrente.
É muito importante lembrar que a criança/adolescente é um sujeito de direitos, e por isso precisa ser ouvida(o), então, o diálogo é sempre o primeiro passo.
Em seguida é possível propor alguma atividade alternativa que aproxime o estudante de grupos novos, por exemplo incluindo-o num esporte coletivo ou convidá-lo a participar de um trabalho voluntário.
Se perceber que mesmo assim o isolamento social permanece, pode ser que seja necessário um encaminhamento a um terapeuta.
Vale ressaltar ainda que: é importante reconhecer as diferenças entre isolamento e timidez. Pois nem sempre os tímidos tendem a desenvolver depressão ou ter o isolamento social como sintoma de um esgotamento emocional.
Como identificar sintomas de esgotamento emocional do estudante?
Como explicamos anteriormente, existem sintomas que podem ser identificados como sinais de um esgotamento emocional do estudante. Embora muitos deles sejam sutis, e por isso negligenciados no começo, ressaltamos que é importante que pais e educadores fiquem atentos, principalmente quando mais de um sintoma aparece, como:
- cansaço recorrente;
- surgimento de problemas estomacais;
- o sono não repõe as energias;
- dificuldade em concentrar-se nas atividades;
- insônia;
- angústia recorrente;
- imunidade baixa;
- crises de ansiedade;
- irritabilidade.
Além desses sintomas, é importante ressaltar ainda outra questão, e mais complexa, que é o esgotamento físico. Esse pode ser causado pelo esgotamento emocional do estudante, gerando o cansaço mental. Os sintomas dessa fadiga crônica são:
- dores musculares em várias regiões do corpo;
- desânimo;
- problemas estomacais;
- distensão muscular;
- imunidade baixa.
A supervisora pedagógica afirma que, os pais precisam ficar atentos ao histórico emocional da criança: “O momento pede que os pais fiquem mais ligados às comunicações não verbais. Se a criança/adolescente está comendo direito, se está dormindo e tendo energia para fazer as atividades de que gosta, se está brincando e se comunicando com os familiares”.
Aparecida pontua que é preciso ter paciência para ouvir e acolher a fala da criança e do adolescente, pois eles têm o direito de ter ideias originais, a pensar diferente, cabe ao adulto ensiná-los a negociar, questionar e ensinar a eles o autorreconhecimento e o autocuidado.
“Já estou esgotado”: o que fazer?
Na maioria dos casos, a família só compreende que o jovem está esgotado quando a situação já está ligeiramente mais grave e atrapalhando a vida social e estudantil. Nesse momento, a ajuda de um profissional da saúde mental é imprescindível.
Além dessa ajuda, existem práticas que podem ser aplicadas para auxiliar o estudante a superar esse esgotamento emocional, são elas:
Autoestima: diga a seu filho que você sabe que a aquisição da autoestima é um processo complexo. No entanto, que ele pode começar a tentar fazer as pazes com ela. Que tal tentar?
Emoções: vivemos em um mundo onde demonstrar emoções costuma ser sinônimo de fraqueza. Mas mostre a seu filho que não é assim. Muito pelo contrário, inclusive! Peça a ele que tente se esforçar para demonstrar o que está sentindo, tanto positivamente, quanto negativamente. Isso vai ajudá-lo no processo de autoconhecimento.
Limites: as frustrações relacionadas à realização de tarefas escolares num momento de isolamento social pode mexer com as emoções das pessoas. Por isso, converse com seu filho sobre como identificar a hora de parar de estudar e mudar de atividades. Descansar o corpo e a mente também faz parte do processo de aprendizado.
Amizades: principalmente os adolescentes, eles podem se distanciar um pouco da família nessa etapa da vida, no entanto, é importante que ele tenha amigos com quem possa conversar. Para combater o esgotamento emocional do estudante, é fundamental que a presença de familiares e amigos exista.
Como estudar com qualidade sem comprometer o bem-estar psicológico
Ciente de que cobranças, estresse e outros problemas psicológicos podem estar causando um esgotamento emocional do estudante ou do seu filho, é provável que muitos pais e educadores estejam se perguntando: “como devo incentivá-lo a estudar com qualidade então?”
Para a supervisora do Colégio Santo Agostinho, é importante que o estudante construa suas estratégias para aproveitar seu estudo autônomo, como alternar o trabalho entre matérias que tenha mais ou menos afinidade, para evitar que um dia seja mais cansativo que o outro.
Além disso, ela ressalta que é interessante tentar manter alguns pontos da rotina acadêmica, ter hora para começar e terminar as tarefas, manter o ambiente de estudo organizado, construir pequenas metas para o dia… afinal, a rotina ajuda na organização da mente.
Dessa forma, nesse período de confinamento, é fundamental que os pais reconheçam e fortaleçam a autonomia relativa dos filhos.
Não dá para deixá-los completamente sozinhos, nem ocupar o lugar que é deles na organização de sua estratégia de estudo. Afinal, em casa é natural que haja uma dispersão maior em atividades de descanso e lazer.
Para ajudá-los nesse desafio, separamos cinco maneiras de conversar com o seu filho e evitar que ele sofra um esgotamento emocional do estudante, principalmente neste período de confinamento:
1- Cobrança x incentivo
A palavra dos pais é fundamental no desenvolvimento dos filhos. Mas cuidado, o incentivo gera melhores resultados que a cobrança em excesso.
Dialogue, conheça e respeite as dores daquele que está em dificuldade.
Principalmente no período de quarentena, pode ser que a criança ou o adolescente nunca tenha ficado tanto tempo sem uma orientação pedagógica direta e você pode ajudá-lo, traçando juntos um calendário de estudos e uma rotina estruturada.
2- Ansiedade e expectativas mal direcionadas podem gerar o esgotamento emocional do estudante
É natural que os pais sonhem com o futuro dos filhos, mas precisamos lembrar que somente eles poderão viver a vida que receberam.
Nós, adultos, podemos orientar, acolher, ensinar, quem vai viver é o outro, portanto, a expectativa do adulto não pode se tornar um peso para a criança/adolescente.
Não exija que ele seja o melhor da sala, mas que faça o melhor dentro de suas possibilidades.
Reflita sobre os motivos que levam ao erro, mas valorize os acertos.
Além disso, evite frases como “esta série que você está fazendo é a mais difícil”, pois, além de estar criando expectativas de uma experiência negativa, você está apenas despejando suas angústias e frustrações na criança/adolescente.
3- Qualidade do aprendizado
A qualidade do aprendizado é medida pela capacidade de aplicação do conhecimento em situações novas.
Portanto, se agora estamos isolados e isso restringe nossas experiências, ainda assim o contato com o conteúdo acadêmico mantém o estudante focado em seus propósitos.
Além disso, se seu filho passou dias estudando, conseguiu organizar-se sozinho, é solidário aos outros, isso é sinal de que ele construiu valores muito perenes e úteis para a vida toda.
4- Pare de buscar culpados o foco é no esgotamento emocional do estudante
Se estamos todos vivendo sob o estresse do isolamento, quem ainda não formou completamente sua identidade/personalidade pode estar sofrendo mais, não é?
Por isso, não é justo descontar nossas frustrações pessoais na criança/adolescente, ou nas dificuldades trazidas pelo estudo em ambiente doméstico.
Se podemos preservar pelo menos esse aspecto da vida cotidiana de nossos filhos, então, sejamos parceiros!
Se você se impacienta com os compromissos escolares de seu filho, ele entenderá que não precisa se responsabilizar pelas tarefas. Assim, ensine-o a solucionar os problemas que aparecerem de forma assertiva e calma.
É uma boa hora para aprender e ensinar estratégia.
5- Erros acontecem
Erros acontecem e todos nós estamos sujeitos a eles.
Para evitar que as frustrações por conta das tarefas escolares causem o esgotamento emocional do estudante, converse com seu filho.
Ao compartilhar as frustrações que você teve na época da escola, ele entenderá que o erro, o acerto, os limites fazem parte da vida, e vendo os pais adultos falando calmamente sobre isso, entenderão que a dificuldade de agora passará
Esgotamento emocional do estudante em crianças e adolescentes: uma realidade
A exaustão emocional no meio estudantil é uma realidade de milhares de jovens. Essa situação não surge do nada e é preciso estar atento aos vários sintomas que se acumulam ao longo do tempo.
As cobranças… elas existem e parte do processo de amadurecimento das pessoas é saber lidar com elas. No entanto, as exigências, quando vêm de casa e em carga excessiva, não ajudam em nada, muito pelo contrário, só atrapalham e podem levar ao esgotamento do estudante.
É importante nos sensibilizarmos com os nossos filhos e também com nós mesmos. Todos temos limites e é preciso respeitá-los, essencialmente porque cada um de nós possui um limite diferente do outro.
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Comentários
2 comentários.
Parabéns, Aparecida. Excelente diagnóstico e importantes dicas para este momento. Muito obrigada!
Obrigada Aparecida, admiro demais as pedagogas que lidam com minhas filhas, uma na quarta serie e a outra na primeira! Fazer o papel de mãe, professora e psicologa é um aprendizado diário!