Educar para transformar
A escola, lugar da vida
Em cada coração de mãe ou de pai, há uma dor e muitas perguntas. No Brasil, desde setembro de 2022, […]
17/04/2023 | POR Colégio Santo Agostinho
Colaborou com este post:
Aleluia Heringer Lisboa
Diretora de educação, relações institucionais e ASG do Colégio Santo Agostinho
Em cada coração de mãe ou de pai, há uma dor e muitas perguntas. No Brasil, desde setembro de 2022, são inúmeros os episódios violentos em escolas. Nesses momentos, nos colocamos no lugar das famílias que tiveram irreparáveis perdas e, com elas, choramos. Esses fatos retiram de nós a paz e nos deixam sobressaltados.
Desde a quarta-feira, 5 de abril, em todas as escolas do Brasil chegaram e-mails, mensagens e telefonemas querendo saber sobre seus respectivos esquemas de segurança. Todos têm pedidos e exigências a fazer; contudo, como adultos, podemos focar em cinco medidas, colocando no centro de nossas atenções nossas crianças e nossos jovens.
Primeiro: serenidade. Ver adultos em pânico não é o que as crianças precisam. É esperado dos responsáveis e autoridades um agir firme, acolhedor e que passe segurança.
Segundo: escolas. É preciso redobrar a atenção. O momento é de rever protocolos de segurança e, se necessário, criar outros. Contudo, nossos esforços precisam ir além. Não depositem todas as apostas nessas medidas. O exemplo americano nos aponta para as limitações dessa abordagem. Os muros, as câmeras e a polícia são aparatos compensatórios e indicadores de que algo mais profundo precisa ser feito.
O ideal é investir nas propostas coletivas de construção do bem comum, sejam elas acadêmicas, esportivas, artísticas, voluntariado, grupos de jovens, grêmios, olimpíadas do conhecimento, assembleias restaurativas etc.. Intensifiquem seus trabalhos e projetos que fortaleçam a cultura da paz, os direitos humanos, o respeito, a compaixão, a solidariedade e a alteridade.
Terceiro: educadores. Fiquem atentos aos seus estudantes. Não se acostumem a comportamentos e falas agressivas em relação a você ou entre eles e muito menos a apatia e o tédio constantes. Ensinem, insistentemente, sobre a força do diálogo como forma de mediar conflitos. Gastem tempo com isso. Atuem como artesãos da paz!
Quarto: pais e mães. Estudos da Unicamp mapearam os casos extremos nos últimos 20 anos e concluem que a violência é premeditada e motivada por raiva, vingança e envolvimentos com grupos extremistas, principalmente na internet. Essas comunidades incitam ao ódio meninos e rapazes, sendo que o mais novo tinha 10 anos e o mais velho 24 anos. Elas exibem imagens e textos com discursos homofóbicos, racistas, misóginos, xenófobos, além de ostentarem e glamourizarem as armas.
Tenham tempo de qualidade com seus filhos. Que sejam quinze minutos, mas, neste momento, não mirem a tela, e sim olhem nos olhos deles. Assim, eles receberão de vocês as boas referências que vão capacitá-los a estar em qualquer lugar e com qualquer pessoa, sem que seja necessário abolir a existência alheia. O mundo, na sua beleza e diversidade, tem lugar para todos nós.
Quinto: sociedade, família e escola. Não desqualifiquem a instituição escolar nem os seus educadores. O longo isolamento social por causa da pandemia nos mostrou o quanto esse lugar e essas pessoas, com todas as suas fragilidades, são potentes ao nos dar contornos civilizatórios. Crescer junto com os outros diferentes de nós nos situa e nos impõe pequenos exercícios que nos ajudam a lidar com a frustração, truculência e prepotência.
Parte do que estamos vivendo hoje é fruto desse distanciamento do espaço escolar. Ali aprendemos a celebrar a vida, mas também a sermos e a convivermos na diversidade, adversidade e na contrariedade. Assim, fortalecemos o nosso espírito para que promova a vida e que a morte nunca seja a solução.